A Batalha de uma Geração de Gremistas
“50 anos de glórias;
Tens imortal tricolor.
Os feitos da tua história;
Canta o Rio Grande com amor”
Ah, a tal da “imortalidade” que nosso time carrega até no hino. É uma mística que cada dia que passa se comprova dentro das quatro linhas, em algo bem real, bem factível. Seja na série B, seja na Libertadores. São raros os momentos que o Grêmio se dá por vencido. Não disse que eles não existem (sim, os 5x0 do Flamengo ainda estão bem frescos na minha memória).
Mas esse texto é construído para relembrar um acontecimento singular no futebol: Náutico 0x1 Grêmio, no dia 26/11/2005. Há 14 anos o Grêmio moldava seu futuro. De riscos à sua viabilidade financeira (ao ficar mais um ano na série B) ao recomeço em uma estrada de glórias (que resultou, em 2017, no Tricampeonato da América). Tudo isso em 71 segundos.
Um texto relembrando a Batalha dos Aflitos já passou a ser uma tradição nos dias 26 de novembro para mim. Mas ano passado decidi acabar com ela. Pensei: “Tenho mais o que fazer! E mais, pra que ficar relembrando isso? Até já ganhamos a América de novo!”. Ato falho. Cá estou eu retomando essa tradição que eu mesmo criei.
Mas dessa vez quero fazer diferente. Não vou me apegar aos fatos de campo (ou ao lado dele). Não quero falar de futebol propriamente dito. Vou fazer aqui o que faço no meu podcast, onde falo sobre Magic, sem falar de Magic. Quero falar do que esse jogo, que tem a alcunha de “Batalha dos Aflitos” significa para mim, nascida em 1996.
Eu costumo comparar esse jogo com o GreNal de 1977, em que André Catimba faz o gol e acaba com a hegemonia vermelha no RS que assolou gremistas por toda década de 70. Esse é um título de gauchão que trouxe de volta a alegria de ser gremista e proporcionou títulos muito maiores nos anos a se seguir.
Minha geração de gremistas foi carinhosamente apelidada de “Geração Aflitos”. Uma geração que cresceu no fim de uma das maiores épocas do Grêmio, sem entender o que acontecia e, quando passou a saber o que é futebol, se encontrava em plena Série B tomando goleada da Anapolina. Minha geração nasceu nos anos de grandes títulos, mas não lembrava de nenhum.
Portanto, a Batalha dos Aflitos acaba sendo um jogo emblemático desta geração: Uma geração que aprendeu a não desistir do Grêmio, mesmo na nhaca que nos encontrávamos. A Batalha dos Aflitos representa muito mais que um simples título da Série B (mesmo que alguns que foram para lá recentemente não conseguiram trazer esse caneco), mas representa o que chamamos de “imortalidade”.
A tal da imortalidade, que virou chacota depois, não é “nunca perder”. Mas sim, não desistir e lutar até o final. A Libertadores de 2007 é um belo exemplo disso, mas não consegue ser melhor do que aconteceu em Recife no dia 26/11/2005.
Mas, o meu principal objetivo aqui não é falar sobre os resultados esportivos que esta vitória causou. Eu quero falar o que isso significa para uma torcedora nascida em 1996, ano em que o Grêmio foi bicampeão brasileiro. Bom… Como eu posso dizer isso? A Batalha dos Aflitos foi, até 2016, a única vez que eu vi o Grêmio ganhar algo que não fosse o Campeonato Gaúcho.
Para muitos gremistas a Batalha dos Aflitos é marcante por aquela incerteza que aconteceu durante todo jogo. As expulsões, os pênaltis e o gol de Ânderson. Mas para mim e, acredito que para toda essa geração, aquilo foi uma demonstração de que dá para ganhar. Aquilo foi uma demonstração da tal imortalidade, que o Lupicínio imortalizou (trocadilho à parte) no hino.
Um ano depois disso, o Grêmio ficaria em 3º lugar no Campeonato Brasileiro. No ano seguinte, ficaria em segundo lugar na Libertadores. Os 15 anos sem título iriam se acumular até o seu ápice em 2016, com a Copa do Brasil mais saborosa que já existiu. E iria transpassar qualquer imaginação tricolor de 2005 no tricampeonato da América.
Entendam: O Futebol faz algo parecido com o Magic. Ele apaixona e envolve as pessoas. Sem paixão não tem futebol. Sem as massas também não tem. Se formos partir para a racionalidade, vamos largar nossas bandeiras e nunca mais comprar uma camiseta oficial. Mas, ter esse sentimento de conquista e volta por cima, de sair de um jogo com 7 homens em campo e dois pênaltis contra na Série B para conquistar a América, é um sentimento que eu nunca tive antes.
É bom demais ser do Grêmio. Mas é sofrido também!
Jamais nos Matarão. Nunca esqueçam do dia 26 de novembro de 2005.
Meus posts anteriores nessa “tradição”: